Morte
Se existe uma ideia que mais atormenta a humanidade é a da morte, ou seja, é a certeza que obtemos pelo raciocínio de que, um dia, nosso organismo deixará de existir. Por causa disso, muitos acreditam que ela seria a passagem para a tão esperada imortalidade da alma. Há também os que acreditam que o mundo seria muito melhor se ela não existisse, se fosse finalmente “vencida” pela ciência. Porém, se ela realmente não existisse, simplesmente não haveria o amanhã... É como singularidades criadoras que não desperdiçamos esta existência que ganhamos e, por isso, vivemos em função do amanhã, sem temermos a morte e, também, sem acreditarmos na imortalidade da alma. Sua ideia se torna até um estímulo para a urgência da nossa tarefa de obrar, para vivermos de modo que parece ser impossível para os que apenas percebem o hoje – então, a ideia da morte, neste seu sentido afirmativo, nos liberta dos clichês do hoje. É inevitável que, quanto mais se é escravo do hoje, mais a morte é amaldiçoada, pois sua imagem vem acompanhada da perda de bens diversos, de pessoas queridas e da história pessoal – não há dúvida de que a morte é impiedosa com quem ainda imagina que é proprietário daquilo que, de direito, nunca lhe pertenceu. Portanto, a morte não se opõe à vida, porque para a evolução da vida é absolutamente necessário que tudo que existe no universo desabe um dia, para que, finalmente, surja o novo – e para que o novo também, um dia, deixe de existir... Por isso é importante combater a tendência servil de glorificar o hoje e desprezar o amanhã, para que seja possível, enfim, a liberdade de viver para o amanhã.
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