Simplicidade impessoal

 

Disponível no formato impresso. 

1ª edição, setembro de 2019
88 páginas
Projeto gráfico de Arquivo - Hannah Uesugi e Pedro Botton


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PREFÁCIO

Os quarenta aforismos que constituem Simplicidade Impessoal, escritos durante quase cinco anos, são a continuidade de Singularidades Criadoras (acrescentamos a não obrigatoriedade da leitura dos aforismos anteriores para que se possa desfrutar dos que estão neste livro). Diante do extremo estímulo à vaidade pessoal – algo que é fácil de observar –, evocamos a simplicidade impessoal como efetiva resistência à captura da nossa existência. Para continuarem a se alimentar da vaidade, as pessoas fazem as piores e mais perigosas concessões, que resultam em desastres mentais, corporais, afetivos, políticos, econômicos, sociais, ambientais. Desse modo, elas solidificam o reino da estupidez, cuja organização é confinante, caracterizada por uma constante manipulação e enfraquecimento de uma massa de indivíduos em um grau incomparável com outras épocas. Essa operação consiste na proliferação do mecanismo entorpecimento-volúpia-vaidade, isto é, das conexões que nos fazem descuidar de nós mesmos são geradas crescentes demandas por conexões com prazeres excessivos que, por consequência, corroboram a nossa vaidade. Trata-se de um círculo vicioso que nos fornece a perigosa ilusão de que esta é a única ordem possível para vivermos em sociedade. 


Ressaltamos no livro a importância da distinção entre a vontade, o desejo e o impulso, como tendências que nos constituem, havendo, principalmente em razão das novas tecnologias de comunicação (irrompidas em uma velocidade jamais vista), um evidente excesso de estímulos das tendências volitivas e voluptuosas que assolam os indivíduos. Todavia, engana-se quem imagina que somente os explorados e oprimidos são alvos desse mecanismo, visto que aqueles que mais lucram estão até mais hipnotizados dentro desse cativeiro mental, corporal, sensorial, temporal. Engana-se, igualmente, quem imagina que todo movimento de esquerda que visa uma diminuição das desigualdades sociais possa oferecer, efetivamente, uma resistência a esse mecanismo – pelo contrário, o que denominamos esquerda subordinada e inferior é um movimento que não ameaça, de modo algum, a soberania das tendências volitivas e voluptuosas, pois o seu objetivo é o poder, mesmo que seja com discursos humanizados (os oprimidos também têm direito a serem consumidores...). O que esse tipo de esquerda ignora é que não se pode romper com uma sistematização confinante e estupidificante sem efetuar o despoder. Para nós, o despoder é realizado por outra esquerda, a qual chamamos de esquerda intermediária e, principalmente, por aquilo que denominamos esquerda insubordinada e superior. 


Contra uma visão binária dos fatos, cabe à filosofia marcar as diferenças de grau e de natureza entre extrema-direita, direita, esquerda tutelar, esquerda superior, etc., pois o tecido social é formado por tendências afetivas que estão além da nossa percepção habitual e da nossa consciência pragmática. Sem o exercício do pensamento, que parte dos dados da nossa percepção habitual para ir além dela, não conseguimos sair das divisões hierárquicas representativas. No sentido político, essa saída é efetuada somente pela esquerda superior, que resiste ao reino da estupidez se aliando ao Sempre, isto é, ao real do fragmentofluxo. Sua organização não é confinante, mas afetante, operando uma autêntica higiene em alguns indivíduos que estão adoecidos pelo macro...imundo (“higiene” vem do grego hygéia, que significa “sã” ou “sadio”). Esse tipo de esquerda empreende suas ações apoiando-se no mecanismo desejo-volúpia-resistência: das conexões intensas surgem o prazer e a alegria por sermos capazes de resistir, de nos sentirmos vivos, pois conseguimos nos reconfigurar. Ademais, ela se serve também de outro mecanismo, que é o impulso-certeza: a criação impulsiva, carregada de emoção, é necessariamente acompanhada de uma certeza alegre.


A esquerda superior é formada por um coletivo de singularidades criadoras, de seres transfigurados que se percebem como cosmoindivíduos, os quais não desperdiçam a dádiva da existência e estão felizes com a sua obra em processo – obra livre de comparações, pois, afinal, ela exprime uma singularidade... É importante lembrar a etimologia da palavra “felicidade” – ela se origina do latim felix, que significa “fértil”, “frutuoso”, isto é, que dá frutos. São esses seres fecundos e espíritos guerreiros que conquistaram a liberdade de viver para o amanhã, a partir de uma simplicidade impessoal proveniente da afirmação daquilo que é um glorioso processo inacabado – o processo do fragmentofluxo, conhecido por meio da consciência continuante.


Amauri Ferreira, abril de 2019





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