Liberdade
Se existe
um anseio comum entre os homens que salta aos nossos olhos é o de
viverem livres. Alguns autores já deram ênfase a esse anseio quando
perceberam que, para muitos, a liberdade aparece vinculada a um
estranho desejo de escravidão, quando ela é concedida
de fora, não como criação que vem de dentro. Livrar-se
simplesmente daquilo que causa opressão não corresponde ao sentido
que damos para a palavra liberdade. Enunciamos, então, o que
entendemos, basicamente, por liberdade: uma rara paciência para ver,
ler e ouvir o que é muitas vezes incompreensível; uma sensibilidade ampliada; uma capacidade de criar condições para falar
pouco e, em contrapartida, para permitir que o pensamento apareça, dando
boas vindas a ele; ser conduzido por uma absoluta certeza de que a
nossa existência é um meio para algo que nos transborda, pouco importando o
nome que se queira dar para isso (“vozes”, “forças” ou “divindades” imanentes,
por exemplo): eis que, finalmente, a “senhora da foice”, isto é, a imagem da morte que causa tanto temor, é prazerosamente assassinada (o “assassinato da morte” como símbolo da liberdade experimentada); enfim, uma
generosidade incomum, porque aquilo que é feito, a obra, serve para presentear os
homens com sensações... Esta afirmação pode ser paradoxal:
a liberdade é uma posse daquilo que já somos. Por isso que
este sentido de liberdade não parece ser o que melhor
agrada ao paladar dos homens em geral da nossa época, porque estes
preferem um outro sentido, mesmo sem se livrarem completamente de um quê de desconfiança: o da “liberdade
concedida”.
Comentários
Só posso agradecer por ter a chance de experimentar sensações tão profundas e nobres ao ler os teus textos.
Beijos, com carinho.