Aula
Imaginamos um ouvinte que está disposto a fruir uma aula, ou seja, que não pretende ser instruído por ela, mas, ao contrário, ser destruído nos seus mais arraigados hábitos de julgar, de perceber e de pensar – imaginamos, sim, a experiência-aula como banho mental, como problema social de higiene, onde o ouvinte tem seus falsos tormentos suspensos, restando-lhe apenas o que é, no fundo, o essencial: sua natureza modificada como condição para que ocorra uma autêntica regeneração a partir do que ele é capaz de fazer com isso... Mas o que é isso? Tudo o que se passou nele através da experimentação-aula... Mas as ideias e a transformação mais profunda são assassinadas quando o ouvinte, devido ao hábito da educação oficial, mete-se a tagarelar, a ser um pedante inevitavelmente estéril. Interromper um fluxo de ideias é estorvar a revolução silenciosa que uma aula pode proporcionar. Quem se dedica de coração para ministrar uma aula deve ter isso na sua mente: a aula tem que ser uma obra de arte – e mesmo sabendo que a aula como obra de arte sempre será uma exceção, ela deve ser desejada, uma aula tem que ir além dela mesma, pois cada aula é um meio para que aconteça a aula maior, isto é, a aula como obra de arte. Para isso, é condição indispensável que o professor seja capaz de viver o que ensina: assim ele tem o nosso amor, respeito e admiração; assim ele é capaz de, realmente, mudar a vida de alguém e, por isso mesmo, cria os seus próprios alunos.
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