Arte
O
artista se alimenta de imagens e de afetos para materializar suas
ideias na sua obra. Ele parte do que é efetuado para, através da
experimentação, criar algo capaz de engendrar novas imagens e
sensações naquele que frui uma obra sua. Desse modo, a arte serve
às mais elevadas necessidades da vida humana. Não há nada para ser
interpretado, nada para ser julgado, pois, afinal, a natureza é
inocente demais para ser julgada. A obra de arte é para ser sentida,
experimentada, para provocar os indivíduos a sentirem de outro modo,
para conhecerem novas imagens, para agirem de acordo com suas
tendências, interrompendo temporariamente a ordem parasitária dos
seus corpos – assim eles são coagidos, através da arte, a
considerarem presentes estranhas sensações que mudam a vida deles
para sempre. Certamente, não cabe à arte nenhum discurso inflamado,
ideológico, mas outra coisa que acontece de modo subterrâneo:
revolução. A arte sempre foi revolucionária – e sempre
será, por isso ela é tão indesejada pelos horrorosos homens de
poder. Ela liberta pensamentos, atrai os indivíduos para uma face da
realidade que é ignorada enquanto estão habituados a julgar a vida
a partir das imagens e afetos que têm consciência. Mas ao contrário
de quem julga, o artista faz das imagens e dos afetos os seus
alimentos para que suas obras possam permitir que o homem comum
conheça essa face da realidade que é anterior às
imagens, isto é, a face da produção ininterrupta das coisas que
temos consciência. O encontro com a obra de arte ativa forças
desconhecidas no homem e por isso ela é sempre necessária
em cada dia que vivemos.
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Aforismo publicado no livro Singularidades Criadoras (2014), de Amauri Ferreira.
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