Ritmo
Chega
um momento em que nos esgotamos das coisas de mau gosto que fazem
parte do cotidiano de uma metrópole: a rigidez dos horários, o
barulho das ruas, a multidão das calçadas, o trabalho apressado,
organizações que nos envolvem perigosamente (pois deixamos para
depois o que sabemos ser primordial para nós) e, quando sentimos
isso, queremos que o nosso corpo seja tocado por outras coisas mais
calmas, afetado por outras cores, banhado por águas de um mar
desconhecido, que ele faça parte de uma outra paisagem.
Passamos a descobrir uma maneira diferente de expressar o nosso
querer, sem banalizar os gestos comuns ao dar-lhes um outro ritmo,
mais estendido, que brilha para nós. Assim, aprendemos até a nos
despedir de modo diferente, mais suave, tal como a moça que, no
portão de sua casa, beija as próprias mãos e estende os braços,
levemente inclinados, para se despedir de alguém querido. Dentro de
um mundo que corre cada vez mais rápido, urge aprendermos com a
singeleza das experiências que possuem um outro ritmo – é esse
outro ritmo que devemos descobrir.
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Aforismo publicado no livro Singularidades Criadoras (2014), de Amauri Ferreira.
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