Ler
“Você
vive aquilo que lê?”. Esta
questão torna-se urgente numa época em que os leitores não
conseguem criar a partir daquilo que costumam ler. A relação com os
livros é, muitas vezes, uma atividade enfadonha, o que desperta no
leitor uma vontade de terminar a leitura o mais rápido possível.
Assim, ele imagina que pode aplicar rapidamente os “ensinamentos”
daquilo que foi lido. O leitor da nossa época funciona como uma
caixa de ressonância do que é escrito nos jornais, revistas e
livros. Quando ele escreve ou fala algo a respeito do que leu,
praticamente não expressa nada de diferente, pois como não sabe
selecionar e digerir o que leu, age como um papagaio. Mas quando
vivemos aquilo que lemos é
revelada para nós uma estranha paciência, de modo que, sempre
quando retornamos ao mesmo escrito, continuamos a descobrir outras
nuanças do texto. Quem é sábio lê aquilo que remete diretamente
às suas experiências de vida. Esse tipo de leitura torna-se
produtiva porque ela nos prepara para a ação: fazemos das nossas
lembranças, que são evocadas durante a leitura, a ocasião
para nascer
em nós ideias que vão além daquilo que lemos. Mas
isso, para o autor que escreve honestamente, é tudo o que ele
deseja... Passamos a participar da continuidade da produção de
pensamento ao lançarmos uma ideia para lugares inexplorados. Apenas
entendemos que há movimento na
natureza quando
nos colocamos no processo de produção. Não
há dúvida de que, se vivemos aquilo que lemos, transformamos a
nossa própria vida e, em razão disso, amamos o texto que lemos...
Deixamos de ser reprodutores de falácias institucionalizadas e
transmitidas à exaustão pelos mass
media para
sermos criadores – somente aí podemos perceber que o sentido
elevado da leitura aponta sempre para a direção da criação
e não para
a erudição. Pois, ao contrário do leitor sábio, o leitor erudito
sempre está preocupado em memorizar aquilo que lê. Ele demonstra a
sua ignorância quando interpreta um texto com a finalidade de
encontrar alguma verdade escondida. Diferente do erudito, o sábio
trata o texto como algo vivo, interpretando-o para
maquiná-lo, para levá-lo
adiante ao produzir algo diferente a partir dele –
no próprio movimento da
interpretação, faz da leitura uma experiência intensiva. Em suma,
o leitor erudito apenas reproduz o que costuma ler; já o leitor
sábio modifica, de fato, a realidade com aquilo que lê. Enquanto o
leitor erudito torna-se dependente dos aplausos que recebe dos seus
admiradores, o leitor sábio, ao devolver ao mundo o seu ato singular
como um agradecimento à vida, experimenta o mais alto sentimento da
produção de realidade.
Comentários
conversamos semana passada sobre Bergson.
Legal seu blog. Acesse o meu tb.
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Abraços
Jadir
Mauri Ferreira, como é gratificante entrar num espaço cultural como este seu. Realmente, vivemos o que lemos, e isso eu gosto de verdade LÊR.
Meus cumprimentos ao escritor, desejando uma infinitude de sucessos pelo Universo cultural,
Efigênia Coutinho
Parabéns, eu admiro a forma simples que você coloca suas impressões e idéias.
virgínia