Falar
Falar, falar, falar. Certamente falamos demais por termos pouca coisa – ou nada – a dizer. A tagarelice parece não ter fim. As palavras são excessivamente desperdiçadas e mutiladas porque perdemos a dilatação das experiências que não são faladas. Uma pausa indispensável para o burburinho das ruas, da televisão, do trabalho. Passamos, então, a permitir que o tempo, através de nós, gere palavras vivas. Agora, em cada palavra dita, um rasgo é feito. O desejo passa, atravessa a palavra, toca e modifica o ouvinte: estranhamento, hilaridade, repulsa, medo, amor... De qualquer modo, algo vai ser produzido em quem é tocado por palavras impulsionadas por um desejo livre... É livre porque destrói tudo aquilo que a moral, a religião e a razão querem limitar ao estabelecerem o que pode e o que não pode ser dito – e o efeito disso não poderia ser mais nocivo: as palavras mortas passam a dominar a nossa vida. Precisamos encontrar o nosso tempo próprio de processar o que nos atinge, a nossa maneira singular de sermos tocados por elementos da vida que não são falados... Mas também podemos privilegiar as palavras faladas que expressam algo novo, diferente – e isso existe. Basta selecionarmos aquelas que nos tocam com uma força que nos impulsiona – para aonde? Pouco importa. Uma palavra, bem utilizada, pode fortalecer. Núpcias e não a morte! – já que as palavras mortas não têm, de fato, algo a nos dizer.
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