Sobre genocídios de ontem e hoje


Gaza, hoje, é a prova incontestável de que não basta a forma da lei e o conhecimento da história para refrear determinados desejos inconfessáveis de uma elite econômica que precisa se servir do Estado, do aparelho militar e da grande mídia. Qual lei, por si mesma, pode impedir que um povo seja exterminado? Ora, se somos feitos de tendências afetivas, toda forma da lei, do aparelho militar e da mídia, por exemplo, são apenas efeitos de determinadas configurações de tendências afetivas em indivíduos e sociedades. 


Seja o militar no exercício perverso de sua autoridade diante de um povo faminto, seja o jornalista que se orgulha ao exibir o crachá de uma notável emissora de televisão, ambos têm o sentimento de um pequeno prazer no exercício das suas funções sociais. Eles não se subordinam às instituições porque "acreditam" nelas, mas porque experimentam certos afetos.


Muitos acreditam que o conhecimento histórico de genocídios poderá impedir que novos massacres ocorram, como se as nossas decisões tivessem origem na consciência! Porém, não se trata de desprezarmos a importância do conhecimento histórico - pensamos que o problema é quando se acredita que ele seja suficiente, como se a "conscientização" do que quer que seja fosse a nossa coisa mais valiosa! Como somos feitos de afetos, é da miséria afetiva de uma massa de indivíduos que decorrem os atos que podem nos fazer sentir uma grande vergonha da espécie humana... O combate efetivo seria, portanto, no nível da produção afetiva e não, simplesmente, no nível da "conscientização".

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