Ignorância
Acreditar
que um cérebro, ou um órgão qualquer, estão separados das
relações com o mundo, traz consequências fundamentais para a
construção de uma cidade. Alguém é adoecido por viver num meio
violento: vemos, por exemplo, uma criança aprisionada quando habita
um espaço constrangedor que reduz sua locomoção, que impede a
experimentação com o seu corpo, convivendo com adultos já
adoecidos socialmente. Será difícil imaginar o que uma criança
assim pode se tornar? O que chamam estupidamente de “mente
criminosa” não seria apenas o produto de uma cidade que violenta
continuamente a vida? Pois é essa violência
que gera a outra, esta última apenas como efeito da primeira,
inegavelmente mais grave e que não é percebida pelos homens, pois
até os mais instruídos entre eles continuam a gritar pela lei para
se protegerem dos “maus” indivíduos. Muitos médicos,
psicólogos, professores, arquitetos e outros tantos diversos
especialistas continuam a ignorar as relações do nosso corpo com o
ambiente que vivemos – certamente eles trabalhariam a favor da vida
se, ao invés de se limitarem à instrução, conquistassem o
pensamento. A organização de uma cidade é o resultado da
ignorância ou do conhecimento de seus habitantes – e o mesmo
podemos dizer com relação aos seus governantes. Toda mudança
radical é absolutamente necessária para o futuro de um povo que
está enfraquecido – por isso que para uma cidade ser construída a
favor da vida implica a urgência de educar os homens para o
pensamento, libertando-se de um governo que somente faz proliferar
ainda mais a ignorância, onde os homens preferem julgar em vez de
pensar cada manifestação da vida como produto das relações... A
violência é filha da ignorância.
Comentários
Parabéns pelo texto Amauri! Feliz, como um bom encontro de corpos que se relacionam sem constrangimento ou ignorância.
Abçs!