Imortalidade


A crença na imortalidade da alma ainda alimenta a esperança dos que querem encontrar uma resposta definitiva para os seus problemas existenciais. Mas a crença numa vida imortal, que seria alcançada somente no mundo do além, sofreu adaptações para atender aos anseios da época “moderna”. As noções de "alma" ou de “eu” ainda permanecem praticamente inatacáveis, à medida que o homem continua a viver, sobretudo, preocupado em defender-se contra os imprevistos da vida. Essas noções são realmente muito estranhas para quem vive o momento, porque o homem criador já experimenta uma felicidade de natureza absolutamente distinta daquela inventada pelos homens impotentes. Para ele, soam estranhas questões como “Há vida após a morte?” ou “Para aonde irá a nossa alma?”. Ora, como as religiões oferecem as “respostas” para estas questões, mais um membro doente é adicionado por uma seita. Mas estas questões não diferem, de fato, de outras, tais como “Quanto eu vou ganhar se eu me formar em tal especialidade?”, ou então, “Qual é a profissão que mais combina comigo?”. Estas questões indicam uma aflição para buscar, alcançar e conservar um “eu” - essa é a aspiração máxima que move a vida dos homens que não criam. A identidade está à venda, portanto, aos impotentes... Aos homens criadores, tais questões nem passam pela mente deles, porque já vivem de uma maneira que sentem a eternidade vibrar a cada novo ato de superação de si. Afinal, seus problemas são muito mais nobres do que os dos atrofiados... Durante a noite, há momentos em que os criadores adiam o sono, não por causa das preocupações que costumam assolar o homem comum, mas porque ainda sentem reverberar os efeitos de um dia de intensa criação... A experiência da felicidade refreia a necessidade da crença na imortalidade.

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Aforismo publicado no livro Singularidades Criadoras (2014), de Amauri Ferreira.

Comentários

A muito não lia um texto tão expressivo sobre a "IMORTALIDADE" por Amaureks. Você foi muito iluminado ao definir precisamente de forma pratica o que vem a ser , ou poderá ser a Imortalidade da alma.
Meus cumprimentos,
serei uma seguidora deste evento de cultura,
Efigênia Coutinho
Amaureks, olá, retorno para agradecer sua visita ao meu espaço, e deixo um convite para ler meus versos "CONVEXO" .

É sempre gratificante retornar a este espaço literário, desejando a você, sempre muito sucesso,
com admiração e respeito,
Efigênia Coutinho
http://efigeniacoutinhopoesiascomimagens.blogspot.com/
Muito bom o texto e, interessante e paradoxalmente, o texto é uma reflexão sobre a morte! Mesmo que focando numa atitude spinosista de apreciação do presente.

Isto mostra que pensar no assunto imortalidade ainda é inevitável; como dizia Kant, não conseguimos nos livrar completamente destas questões metafísicas, pois elas nos atormentam de alguma forma.

No entanto, dar a elas uma atenção maior do que o necessário é uma "perda de tempo".

Porém, o próprio Spinoza entrou neste assunto, em um determinado momento de sua Ethica, com alguns insights muito interessantes que merecem uma reflexão... uma hora destas vou tentar sistematizar para escrever e aí te aviso para você dar uma olhada.

Parabéns! Estou sempre "de olho" no teu blog ;). Gosto da forma como vc escreve e de como aborda os assuntos.

Guilherme
http://philosophia-aton.blogspot.com
cara Amauri mais um excelente texto, se me permitires, gostaria de anexar na tua página no Espaço Ecos .
aguardo contato, abraços afetuosos
virgínia
vicamf@yahoo.com.br
Mas quando vivemos aquilo que lemos é revelado ...

ESTE ESPAÇO SEMPRE QUE VENHO, TORNO A LER ALGUM ARTIGO SEU, E SEMPRE SAIO RICA DE BOA LEITURA.

HOJE VIM DESEJAR UMA FELIZ PÁSCOA

Efigênia Coutinho